Gays e evangélicos é uma mistura que por muito tempo soou
estranha – e, para muitos, ainda soa. Mas isso começou a mudar em 1998, com a
criação do grupo de música gospel (ministério de louvor, pra falar no
evangeliquês) Diante do Trono, da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte. Com
trabalhos e canções marcantes, como o álbum “Exaltado” e a música “Preciso de
Ti”, o grupo atraiu e emocionou pessoas de segmentos religiosos variados. Mas,
ao longo dos anos, o Diante do Trono, e, em especial sua líder – Ana Paula
Valadão, se estabeleceu, de forma mais intensa, junto ao público homossexual.
Há duas explicações para essa segmentação de público. A
primeira é a mensagem das canções (e aqui, vale dizer, as mais antigas)
escritas e gravadas pelo grupo, que apresentam um Deus que é Amor, que é Pai,
inclusivo. A segunda explicação seria a partir da líder do grupo, Ana Paula
Valadão, que por seu caráter de diva, ídolo, atrairia principalmente os
homossexuais. Para entender essa vertente, basta observar que, principalmente
nos últimos anos, é notório o investimento em performances, glamour, espetáculo
nas apresentações do grupo – coisas que têm bem mais poder de atração sobre o
público gay.
No ensaio geral do último trabalho do Diante do Trono, Sol da
Justiça, em julho do ano passado, tive a oportunidade de conversar com uma
pessoa bem próxima à Ana Paula Valadão, que partilha da primeira opinião. Por
ela, fiquei sabendo que o CTMDT – Centro de Treinamento Ministerial Diante do
Trono – atrai na maior parte o público homoafetivo (palavra por ela utilizada).
Pessoas que seriam atraídas pela mensagem do Amor de Deus.
Concordo com muitos pontos da opinião dela, mas partilho um
pouco mais da segunda visão. Após anos de convivência com o público do Diante
do Trono e de participação em seus eventos, noto que a atração que antigamente
era mesmo pela mensagem foi transferida para a pessoa da líder, Ana Paula. É
nítida, desde a gravação do álbum “Príncipe da Paz”, no Rio de Janeiro, em 2007, a tentativa de
constituição da Ana Paula Valadão como celebridade no meio gospel. Celebrização
acentuada nos últimos anos pelo contrato com a gravadora das Organizações
Globo, Som Livre, e pela crescente exposição na mídia, em programas populares.
Não é coincidência!
Como é tradicional, durante o feriado da Semana Santa, é
realizado o “Congresso de Louvor e Adoração Diante do Trono”, em Belo Horizonte. Este
ano o evento chegou à sua 13ª edição e foi realizado no Expominas. Estive
presente em alguns momentos, já que ganhei uma cortesia (o preço para
participar do evento este ano foi R$ 110), e pude assistir, triste e assustado,
ao culto feito à família Valadão. A celebrização era evidente por meio de um
discurso muito distante do Evangelho. A Graça de Cristo sequer foi anunciada.
Como prato principal, muita luz, som, mensagem de autoajuda,
promessas vazias de vitória e conquistas. E glamour – muito glamour. Pastores
vieram dos Estados Unidos para ensinar (e vender um livro que ensina) “como ser
um adorador”. Lá fora, stands variados: venda de livros, CDs e DVDs, camisas,
agendas e todo tipo de bugigangas relacionadas à marca Diante do Trono e a
outras relacionadas, como André Valadão e Mariana Valadão. Dentre todos os
produtos, o que mais me chamou atenção – e assustou - foi a marca de joias da
líder do ministério de louvor. Comércio e emocionalismo. Nas chamadas
ministrações, excesso de barulho. O som direcionado a potencializar as
manifestações emotivas. Muitas lágrimas e gritos, acompanhando o ritmo
frenético do som. Quando há silêncio, no entanto, as pessoas se calam. A isso
chamam, equivocadamente, de “poder”, “presença de Deus”. Triste engano.
Ao mesmo tempo em que se via um culto ao consumismo
desenfreado, era também evidente (para os que quisessem ver) a ausência de
qualquer stand de algum projeto social. Na mensagem, nenhum incentivo à doação
de sangue, ao cadastro de doadores de medula óssea, à doação de alimentos e
roupas aos pobres, de engajamento em causas sociais. Órfãos, doentes, pobres e
viúvas totalmente ausentes dos temas tratados. Mas o comércio estava ali,
evidente, convidando... Coincidentemente (?), inúmeras pesquisas mostram que o
público gay é o que mais consome hoje no mundo.
Homossexualismo existe sim e os eventos do Diante do Trono
evidenciam isso com clareza. Mas faço uma distinção entre homossexualismo
(manifestação doentia e desenfreada da condição homossexual) e
homossexualidade. O primeiro, para mim, é uma forma de viver danosa que atinge
muitos homossexuais, que tocam suas vidas de forma desregrada e fazem da
condição homossexual uma religião, enquanto a segunda é apenas a manifestação
natural da condição homossexual. Como o tema aqui não é esse, vou me deter
aqui. O que deve ser destacado disso tudo é a clara relação entre a
midiatização do grupo nos últimos anos, a celebrização da Ana Paula Valadão, o
investimento massivo no comércio de produtos relacionados à marca Diante do
Trono e a atração exercida pela Ana Paula Valadão junto ao público gay.
Fico pensando o quanto seria produtivo se ela apresentasse a
essas pessoas o Evangelho que cura, muda, transforma. E, ao falar de cura aqui,
não estou caracterizando a homossexualidade como doença, e sim o
homossexualismo. A quem não entende essa necessidade urgente, incentivo que vá
a um evento do Diante do Trono sem preconceitos, sem defesas. Muitos jovens
saem do ambiente emocional propiciado pelo clima de “adoração” e vão direto
para a promiscuidade de baladas, drogas, sexo descompromissado. E o problema
não está apenas no trânsito entre as duas ambiências, mas no excesso de culpa
que é gerada nesse trajeto. Não é um caminho de paz, de Graça. Mas de culpa e
dor – muita dor.
Minha alma se enche de tristeza com tudo isso. Em meu
coração, ainda grita alguma esperança. Quem sabe, em breve, a Ana Paula Valadão
se renda ao Evangelho... Aí, a influência que ela tem sobre o público gay
poderá ser benéfica, a fim de contrapor a dor e as feridas que lhes são
causadas pela religião e pela sociedade. Não mais para levá-los a consumir e a
se emocionar, mas para apresentá-los a uma possibilidade de cura e descanso,
nos braços de um Pai que ama e aceita. Simples assim. É um sonho, eu sei.
Talvez grande demais. Mas eu não desisto...
Postado
originalmente por Rafael Rocha do Blog Contradição
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